23 março 2010

Obrigação (quase) obrigatória!

Para quem não viu, o Especial da TV Cultura da última quinta-feira exibiu duas entrevistas antológicas da década de 70 da cantora Elis Regina. Ela foi convidada a responder perguntas de seus fãs nos programas Vox Populi e MPB Brasil. As entrevistas foram exibidas das 23h à meia noite e apenas confirmaram o temperamento explosivo de Elis, que não poupou palavras e ironia nas respostas.

Uma das mais presentes considerações da cantora foram as críticas à Indústria Cultural e seus efeitos na indústria fonográfica brasileira, com a invasão de modelos norteamericanos (não só na música, mas em todas as manifestações culturais). A constante frequência deste assunto se deu pela permanência do tema nas perguntas das pessoas na rua.

Dá pra perceber que todos tinham consciência que Elis era fortemente ativista, ou seja, participava com frequência das discussões sobre a sociedade da época. Durante toda sua curta carreira, ela foi responsável por afirmações rígidas, comprometedoras e pertinentes às mazelas sociais que assolavam não somente o Brasil.

Dois dias depois, no sábado, estava eu assistindo Lobotomia, o programa de entrevistas do cantor Lobão, na MTV, com a participação do vocalista do Detonautas, Tico Santa Cruz, quando o mesmo assunto veio à tona: enquanto falavam sobre o conceito de homofobia
e a suspeita de o Dourado, do BBB, ser homofóbico ou não, Tico alertou o público sobre a necessidade de os artistas, por terem a publicidade a seu favor, serem ativistas.

A partir deste argumento, comecei a pensar se apenas o fato de uma pessoa ser pública a obriga a expor suas opiniões em campanhas reivindicatórias. É evidente que inúmeros artistas promovam discussões e incentivem diversos tipos de mudanças, mas isso é essencial para uma carreira artística e desqualifica a pessoa que se recusa a se posicionar?

Um exemplo típíco da descriminação pública contra artistas que não se mantém firmes nas suas ideias e não as expõe frequentemente é a chuva de críticas feitas à cantora Maria Rita no ano passado por ela não ser tão ativista quanto a mãe. Para se ter uma ideia, os que se revelaram contra a posição contida de Maria Rita duvidaram até do talento da cantora, criticando suas potencialidades vocais: uma manifestação descabida! (É importante ressaltar que desde o ano passado, Maria Rita está engajada na campanha Doe um Livro, pelo Twitter, que já arrecadou quase 80 mil livros usados, que estão sendo doados por livrarias pelo país).

Para mim, há duas possibilidades de os artistas se manifestarem sobre algum assunto de interesse social. Primeiramente, nos seus próprios trabalhos (críticas embutidas nas músicas, como na Ditadura Militar, na época da Tropicália, da Marginália, os RAP's “sociais” das periferias, no movimento hippie; livros que retratam a realidade da sociedade, de forma a manifestar alguma crítica, mesmo que subentendida; obras de arte que materializam alguma reivindicação, como os parangolés de Hélio Oiticica, as pinturas de Tarsila do Amaral e dos outros artistas da Semana de Arte Moderna etc.). Ao lado, a obra "380 Mortos e Desaparecidos da Ditadura Militar no Brasil", de Henrique Macedo.

Em segundo lugar, em trabalhos (voluntários) alternativos, que satisfazem os princípios morais e éticos dos artistas, além de alavancar suas carreiras, como era o caso de Elis (que usava as duas possibilidades), a campanha Amazônia Para Sempre, que Christiane Torloni propaga pelo país há tempos, as diversas ONG's que são agraciadas pelo capital e apoio de inúmeras celebridades etc.

Atualmente, a tecnologia torna possível o ciberativismo, ou seja, a propagação de ideias e críticas sociais virtualmente, através da internet. Com esta possibilidade, é inevitável o aumento da participação dos artistas em campanhas. Mas fica a minha posição: mesmo que não haja esse aumento, não é obrigação de ninguém (mesmo que seja conveniente) expor ideias libertárias, revolucionárias, críticas ou reivindicatórias.

E você, acha que todo artista ou pessoa pública tem a obrigação de usar seu espaço na mídia para expor ou propagar suas opiniões sobre as questões sociais?

Um comentário:

Eliana disse...

Oi gui...
Postando aki pela 1ª vez...rsrs

Por obrigação nunca..."obrigação" é uma palavra que restringe a liberdade, e sem liberdade e essência é outra.
Mas por vontade, por opção, por questões ideológicas, eu acho interessante, pois são pessoas que querendo ou não, possuem influência na mídia e quando bem direcionadas podem ajudar nas causas que se dedicam. Porém, concordo com vc que não somente através do engajamento propriamente dito, mas tb através da arte que escolheram, podem ser gdes transformadores de opiniões e da própria sociedade.
Isso tb tem dois lados, a influência boa e a negativa...mas tudo na vida tem dois lados neh? Cabe-nos somente saber discernir...

Fica na paz.
Bj.