20 abril 2010

A Dança dos Hipócritas

Quem não saiu de casa no domingo à noite, seja por medo da violência nas ruas, juntamente com a ausência de transporte privado, como no meu caso, ou por simples falta de compromisso, pôde acompanhar a estreia do Dança dos Famosos 2010, sétima edição do reality show do Domingão do Faustão, no qual 12 celebridades do mundo da música, do esporte e da televisão provam seu potencial artístico para a dança através de apresentações semanais de vários ritmos. Para treiná-los, 12 profissionais do ramo são delegados para ensaiá-los durante a semana, elaborando uma coreografia a partir das capacidades de cada participante.

Como já expliquei aqui no 1/3, sou aficionado por reality shows (atualmente, acompanho “A Dança...” (Globo, domingo, +ou-19h30) e “O Aprendiz Universitário” (Record, terça e quinta, 23h), que estreiou na última semana). A Dança dos Famosos, em especial, é interessante por apresentar personalidades agraciadas pela fama de uma maneira como não as conhecemos, pelo menos não na função que as tornaram famosas. Através das dificuldades dos ensaios, dos erros nas apresentações e dos depoimentos sobre a relação com os professores, enxergamos a pessoa acima do artista. Conseguimos alcançar a privacidade que o fato de a pessoa ser pública ainda não nos permite, ou seja, fazemos papel de telespectadores/paparazzi, intensificando o anseio voyeurista que a sociedade contemporânea preza.

Para dar início às apresentações, os homens dançaram o ritmo discoteca, acompanhados das respectivas professoras. No próximo domingo, é a vez das mulheres entrarem na dança. Para compor o time de celebridades desta edição, o inexorável e ex-rechonchudo Fausto Silva convidou a botocada Ana Maria Braga, Christine Fernandes, Sheron Menezes (calma! não é a Stone), Fernanda Souza, a lânguida Letícia Birkheuer e Wanderléa, a eterna ternurinha. A seleção masculina é composta pelo “Bino” (Stênio Garcia), André Arteche (pseudocelebridade), Bruno de Lucca, um dos queridinhos da Globo, como Maria Gadu, Milenna e Tânia Mara, o desajeitado Paulo Zulu, Marcelinho Carioca e o sambista Diogo Nogueira.


A cada semana, um casal é eliminado e vai para a repescagem, por ser o pior da noite, a fim de tentar uma segunda chance. Para avaliar as danças, uma mesa “julgaramentícia”, composta por dois profissionais do ramo e mais três famosos (como se os doze participantes não bastassem) dá notas de acordo com o desempenho no palco, ou não.

O “ou não” cabe porque, já na primeira apresentação, observamos a falta de comprometimento dos jurados (leigos) ao desclassificar Diogo Nogueira, mantendo Stênio Garcia, que mais vegetou no palco do que dançou. Eu entendo que a capacidade motora do ator quase centenário é limitada, e, para isso, sua professora, a dançarina e ex-paquita Daiane Amêndola, adaptou uma coreografia especial. Portanto, era de se esperar que Stênio cumprisse bem pelo menos isso, mas não foi o que aconteceu. Ele errou durante toda a apresentação, trocando passos, confundindo-se com as marcações etc., o que não aconteceu com tanta intensidade nas outras danças.

O júri técnico, composto neste domingo por Carlinhos de Jesus e Carlota Portella, admitiu a incompetência do velhinho para a dança e votou em sua saída. Porém, os outros jurados (Fiorella Matteis, Mariana Weickert e alguém que não conheço (parece que nem o Google conhece!!)) ficaram piedosos com a manifestação da plateia a favor da permanência do “Carga Pesada” na competição, e tiraram Diogo Nogueira, que também errou, concordo, mas foi bem mais fiel à coreografia do que Stênio. Minha predileção pelo sambista pode ser declarada, mas fui impessoal neste comentário. Garanto!

Não estou duvidando da capacidade interpretativa de Stênio Garcia, que é um dos maiores atores da história da nossa televisão, mas é errado, numa competição que deveria ser justa, protegê-lo por ele ser quem é. Foi evidente o desapontamento dos jurados técnicos ao saberem dos votos dos leigos. Eles trabalham com dança há muitos anos e sabem julgar com senso. Seria no mínimo óbvio os outros se espelharem na percepção deles ao darem suas sentenças, afinal, por mais que se trate de um quadro de descontração, estão mexendo com o orgulho e o ego das pessoas.

Esperemos o próximo domingo. Quem será a protegida da vez? A Ana Maria Braga ou a Wanderléia?

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