13 maio 2010

TOP 1931 - Sem Novidades no Front

Todo filme que se preze tem que exibir, por meio de seu enredo e direção, uma mensagem ao espectador, um sentido com o qual todos, ou grande parte do público, possa se valer para reafirmar ou atualizar as concepções sobre algum assunto. Dessa lista, porém, excluo algumas espécimes peculiares de nossa produção cinematográfica mundial, como as séries Todo Mundo em Pânico e American Pie, entre outras, que se baseiam apenas no entretenimento e na busca por bilheteria fácil, sem nenhuma pretensão estética.

O período entre-guerras mundiais foi marcado por uma bela produção que, entre tantas outras, busca conscientizar os espectadores, por meio da trama, sobre as desvantagens de se guerrear. Considerado o maior filme pacifista de todos os tempos, Sem Novidades no Front conta a história de sete jovens patriotas alemães que se alistam no exército apenas para defenderem seu país, sem nenhuma motivação vocacional. Na expectativa de encontrarem status e uma rotina sossegada, partem rumo a uma das experiências mais cruéis de suas vidas.

É da pior maneira que descobrem o lobo que existe no interior da pele de cordeiro que havia sido construída em seus subconscientes ao longo do período escolar. O professor Kantorek (Arnold Lucy) é o responsável por motivá-los a incorporarem o batalhão bélico através de um discurso marqueteiro, que remetia constantemente às vantagens que a guerra traria, sem fazer referência aos perigos.

À frente dos novos soldados está Kat Katczinsky (Louis Wolheim), coronel compreensível, que tenta amenizar os estragos feitos pelas bombas e tiros, como as inúmeras mortes, amputações etc. Contrapondo, está Himmelstoss (John Wray), coronel e ex-carteiro da pequena cidade alemã, que sofre diariamente com o abuso da aproximação de seus subordinados, que não conseguem o tratar com o devido respeito que o cargo lhe confere. Portanto, é autoritário e não trata seus soldados com o mínimo respeito.

Uma das cenas mais marcantes é a sequência realizada no início e no fim da obra, na qual um discurso altamente publicitário do professor "obriga" seus estudantes a se alistarem. Paul Bäumer (Lew Ayres), o único sobrevivente da primeira "leva" de carne fresca para o front, desobedece o professor e incentiva os estudantes a fazerem projetos pessoais, concretizarem seus sonhos e não se alistarem (isso já no final do filme, quando volta do campo de batalha).

O personagem de Ayres pode ser considerado o alter ego do diretor Lewis Milestone, que, mesmo sendo americano e produzindo filmes "para americano ver", deixa de lado o ego inflado de seus compatriotas e incorpora a devastação psicológica imbuída nas mentes dos perdedores da Primeira Guerra, soando como um grito de alerta para a paz (lembrando que, oito anos após a produção do longa, eclodiu a Segunda Guerra, ou seja, a mensagem não reverberou da maneira desejada).

Novidade na época, o filme conta com a utilização de flash backs dos alunos, que lembram de suas vidas "civis", temendo o que a guerra pode proporcionar-lhes, e também o brilhante uso de um travelling rápido no encontro entre dois batalhões inimigos na trincheira de guerra. A cena mostra com perfeição os tiros atingindo os soldados, as bombas explodindo etc. Até em filmes atuais não vi uma angulação tão interessante como a usada.

Qualidades à parte, tecnicamente (com exceção da cena da trincheira) o filme é ainda muito fraco, com desencontros entre ações e sons (como bombas e tiros), precariedades na construção dos cenários externos, como as trincheiras e pontos de apoio dos soldados, além de não possuir interpretações excepcionais. Os cortes entre as cenas são bem mais sutis que os filmes anteriores, mas ainda são usados em excesso. A compactação de cenas através de ligações mais amenas ainda não aparece.

Para quem gosta de filmes de guerra, é uma boa experiência cinematográfica, até porque é fato que diretores de filmes atuais, como Platoon e O Resgate do Soldado Ryan, se espelharam em alguns pontos de Sem Novidades no Front para construírem suas narrativas. Observação: A tela de FIM ainda é utilizada.

No segundo Oscar do ano de 1930, realizado dia 5 de novembro, concorreram com Sem Novidades no Front: a comédia A Divorciada, Alvorada do Amor, a cinebiografia Disraeli e o drama O Presídio.

SEM NOVIDADES NO FRONT - ALL QUIET ON THE WESTERN FRONT
LANÇAMENTO: 1930 (EUA)
DIREÇÃO: LEWIS MILESTONE
GÊNERO: DRAMA/GUERRA
NOTA: 7,5

Um comentário:

Brentegani disse...

Realmente era a época dos filmes de guerra né?!
Mas tá muito legal seu texto viu, como sempre, muito bem escrito!
Congratulations!