24 junho 2010

TOP 1940 - E o Vento Levou

Acho muito difícil escrever sobre filmes consagrados pelo público e pela crítica. A responsabilidade aumenta e qualquer argumento usado, ou detalhe destacado, já foi instrumento da análise de muita gente. É o caso do vencedor do Oscar de 1940, a superprodução E o Vento Levou, maior bilheteria da história do cinema depois dos dois filhos de Cameron: Titanic e Avatar. Primeiro filme a cores a ganhar como The Best, Gone with the Wind rendeu à sua equipe de produção, liderada pelo diretor Victor Fleming, a maior quantidade de estatuetas até então: foram treze indicações e dez vitórias.

O longa conta a tumultuada vida de Scarlett O'Hara (Vivien Leigh), uma das mais célebres personagens entre todas as que passaram pelas telonas, talvez pela sua vitalidade, sua coragem e seu vigor. Em meio a guerra civil americana (a Guerra da Sesseção), ela tem de enfrentar os percalços da falência de sua família e os horrores da disputa bélica como uma verdeira lady, devido a enrijecida sociedade americana do século XIX. Longe disso, ela se mostra uma guerreira nata, uma defensora árdua de sua terra e uma garota ambiciosa e geniosa. A atriz consegue construir a personalidade forte de Scarlett ao longo das quatro horas de duração do filme (!!!) com eficiência e qualidade indiscutível (o que a rendeu o prêmio de melhor atuação daquele ano).

Para deixar mais complexa a situação, eis que surge Rett Butler (Clark Gable), um mulherengo declarado, com uma personalidade igualmente forte e que, por ser contra a guerra, fica na cidade enquanto todos os outros homens lutam com seus conterrâneos pela posse da terra. Enquanto Scarlett faz de tudo para conseguir o que quer (mata, casa com o pretendente da irmã, aceita convites de casamento apenas pelo dinheiro, trata mal quem não lhe convém) Rett vai se apaixonando pela moça, sem contudo se manifestar (o que é de seu feitio) e espera anos a fio até que Scarlett esqueça seu amor de adolescência, o militar Ashley Wilkes (Leslie Howard).

A história sempre faz referências à terra, lembrando todos os espectadores sobre a importância de se lutar pelo único pertence que fica após a morte (segundo a própria fala do pai de Scarlett), ideia presente até hoje nos discursos americanos. A personagem de Leigh foge totalmente ao padrão de mocinha dos filmes anteriores. Não havia a possibilidade de se admitir que uma protagonista não fosse politicamente correta, o que faz com que E o Vento Levou se eternizasse como precursor de vários modelos.

Além de se desviar totalmente do maniqueísmo presente no cinema até então, o roteiro romântico/dramático de E o Vento Levou foi exemplo de ideias para as tramas das populares telenovelas que se espalham pela dramaturgia atualmente, além de revolucionar a produção cinematográfica, ao trazer o recurso da cor para as salas, o que o torna, sem dúvida alguma, o filme mais bonito, esteticamente falando, até então.

A diferença entre ele e Avatar, produto de outra evolução no modo de se fazer cinema (a tecnologia 3-D), é que o roteiro do clássico da década de 30 é consistente, inovador e imprevisível, o que garantiu duplamente a qualidade do resultado final, tanto na área técnica como na trama.Não quero me estender muito. As qualidade e defeitos são vários, porém prefiro me atentar aos principais para que meu texto não fique muito cansativo, assim como o ritmo do filme, que perde a velocidade a partir do interlúdio, momento em que se começa a sentir as consequências da guerra. Apontado por muitos como um dos melhores filmes de todos os tempos, não acredito nesse posto, mesmo admitindo se tratar de uma bela obra clássica, imperdível a todos os cinéfilos, meio àgua-com-açucar demais em alguns trechos, mas documento fiel e importante de um momento histórico marcante para o desenvolvimento dos Estados Unidos.

Por fim, a trilha sonora é o que há. A música tema pode ser identificada sem nenhuma dificuldade quase 80 anos depois, e as cenas são recheadas (inclusive entre as falas) do que havia de melhor na música naquela época. Nem sei como o longa não ganhou como Melhor Trilha Sonora. Vale a pena lembrar que, no mesmo ano, concorria como melhor o filme A Mulher Faz o Homem (Mr. Smith Goes to Washington), considerado por muitos a obra prima de Franz Capra. Acho que o diretor escolheu um péssimo ano para lançá-lo!!


Ainda concorreram: Adeus, Mr. Chips (Goodbye, Mr. Chips), Carícia Fatal (Of Mice and Men), Duas Vidas (Love Affair), Ninotchka (Ninotchka), No Tempo das Diligências (Stagecoach), O Mágico de Oz (The Wizard of Oz), Vitória Amarga (Dark Victory) e outro clássico: O Morro dos Ventos Uivantes (Wuthering Heights).

E O VENTO LEVOU (GONE WITH THE WIND)
LANÇAMENTO: 1939 (EUA)
DIREÇÃO: VICTOR FLEMING
GÊNERO: ROMANCE/ DRAMA
NOTA: 9,0

Um comentário:

Alan Raspante disse...

Cara, ler sua resenha, só me deixou com mais vontade de conferir o filme!!