12 janeiro 2011

TOP 1990 - Conduzindo Miss Daisy

O filme vencedor do Oscar em 1990 foi feito para nos ensinar que a amizade não tem idade nem grupo social para existir. A dupla Jessica Tandy e Morgan Freeman vive, respectivamente, Miss Daisy, empresária branca, rica e judia, e Hoke Colburn, motorista negro, pobre e cristão. Para completar o curioso encontro, a história se passa nos anos 50, período em que o preconceito ainda não era visto com maus olhos, principalmente no interior do país. Como o título já sugere, Hoke é o chofer da protagonista, tendo sido contratado pelo filho de Miss Daisy, Boolie Werthan (Dan Aykroyd), após um pequeno acidente causado pela incapacidade da mãe em controlar o automóvel (a personagem tem 72 anos no início da história).

A resistência em permitir que Hoke a conduzisse a seus compromissos mostra um pouco da personalidade ranzinza, orgulhosa e excêntrica de Miss Daisy, que preferia pegar um bonde e se arriscar na rua do que aceitar que já não tinha a mesma vitalidade de antes e ser locomovida por outra pessoa. Hoke, no entanto, não se mostra submisso e, à força, revela para Miss Daisy que, além de um funcionário leal, ela poderia contar com um amigo fiel. Aos poucos, o respeito e um carinho (mesmo que contido) vão tomando conta da relação dos dois.

O filme acompanha quase vinte anos da vida dos dois, contando como ambos foram cedendo ao orgulho e a prepotência e se deixando levar por um sentimento profundo e duradouro. Miss Daisy agora tem com quem conversar sobre suas angústias e as histórias do passado, Hoke finalmente consegue aprender a ler graças as lições da protagonista, que é professora aposentada, enfim, os dois envelhecem juntos, aprendendo a se suportar e a superar o preconceito da sociedade.

Apesar de Conduzindo Miss Daisy ser um belíssimo e delicado retrato da velhice sem cair em clichês, o longa tem vários problemas: os temas polêmicos retratados pelo filme, como preconceito racial, discriminação social, analfabetismo, judaísmo e abandono familiar são expostos superficialmente, sem que haja aprofundamente em nenhum deles. Além disso, o ritmo pelo qual os anos se passam na história é porcamente montado, tornando a trama extremamente episódica e repetitiva (legendas com o ano em que a história se encontra são obrigatórias no longa, caso contrário não dá pra saber que o tempo passou).

Pelo menos as atuações são dignas de premiação. Morgan Freeman reforça seu talento primoroso (perdendo a estatueta, no entanto, para Daniel Day-Lewis, que atuou em Meu Pé Esquerdo) e Jessica Tandy está magnífica como a rabugenta protagonista (repetindo a qualidade um ano depois como Ninny Threadgood, em Tomates Verdes Fritos). Sua interpretação é concisa, sua expressão é sutil, porém convincente, motivos que a levaram a ser a atriz mais velha a levar uma estatueta para casa (quando recebeu a premiação de Melhor Atriz tinha 81 anos). Infelizmente morreu em 1994, deixando, porém, um legado de qualidade para nós.

No Oscar 1990, Sociedade dos Poetas Mortos (Dead Poets Society), longa evidentemente superior a Conduzindo Miss Daisy, perdeu injustamente a estatueta de Best Picture. Um roteiro bem melhor estruturado e interessante deveria ter sido o destaque do ano. Além deste, ainda concorreram ao prêmio de Melhor Filme os seguintes longas: Campo dos Sonhos (Field of Dreams), Meu Pé Esquerdo (My Left Foot) e Nascido em 4 de Julho (Born on the Fourth of July), de Oliver Stone.

CONDUZINDO MISS DAISY (DRIVING MISS DAISY)
LANÇAMENTO: 1989 (EUA)
DIREÇÃO: BRUCE BERESFORD
GÊNERO: DRAMA
NOTA: 7,0

Um comentário:

pseudo-autor disse...

Até hoje eu não consigo entender por que esse filme ganhou o Oscar. Só Hollywood mesmo!

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