Ele nem chega perto das diversas listas de melhores filmes sobre vampiros, mas 30 Dias de Noite me cativa pela extrema criatividade com a qual o roteiro nos conta uma trama basicamente trivial e já desgastada por produções pasteurizadas repetidas ao cansaço pela Sessão da Tarde. A equação dos filmes de terror, que consiste em um grupo de jovens sendo perseguido por algo que ponha vidas em risco, é a mesma aqui, não fosse pelas condições as quais os personagens têm de se submeter para sobreviverem aos dentuços.
A história, baseada num HQ homônimo, se passa em uma isolada vila no Alaska (EUA), onde o sol é encoberto pelo breu durante os 30 dias mais intensos do inverno. A dupla frio + escuridão é a dobradinha perfeita para que uma gangue de sugadores de sangue escolha a temporada para atacar a população que resolve permanecer no local em vez de migrar para o sul durante aquele mês.
Sem a presença do sol, criptonita para os vampiros, os vilões não têm restrição alguma e podem atacar qualquer lugar a qualquer momento. Para proteger a população, o xerife Eben Oleson (Josh Hartnett) e sua ex-esposa, a também policial Stella (Melissa George), têm a difícil missão de impedirem a matança completa antes que o sol volte a aparecer. Para piorar a situação das vítimas, além do fato de não poderem sair do vilarejo, pois o próximo voo chega apenas junto com o sol, os pálidos monstros arrumam uma forma de cortar a energia e qualquer tipo de comunicação com o exterior.
O estilo dos vampiros é outro ponto que merece destaque. Nada de traços românticos, compaixão ou qualquer sentimento que se aproxime da bondade. A personalidade dos vilões de 30 Dias de Noite é o que de mais tradicional pode se esperar de um vampiro, como a maldade, a crueldade, a frieza e a fúria mortal, além de uma característica que dá um tom ao mesmo tempo delicioso e aflitivo ao roteiro: a rapidez das criaturas. Neste filme, além de esteticamente assustadores, com dentes serrados e irregulares ao invés dos cristalinos caninos saltados, os vampiros são quase supersônicos. A mobilidade com que pulam e correm de forma quase esquizofrênica é um dos mais preocupantes obstáculos das vítimas, que precisam de muito pique pra fugir dos algozes.
A tensão ao longo do extermínio cinematográfico é muito bem distribuída e o roteiro consegue criar, levando-se em consideração a conjugação entre gelo, sangue e escuridão, situações ímpares no histórico de filmes sobre vampiros que eu já vi. Apesar de ser pouco valorizado entre crítica e público, 30 Dias de Noite é um dos poucos exemplares deste gênero que me fez ter medo.
Três anos após o lançamento do primeiro filme da franquia, a continuação da história em quadrinhos também ganhou uma adaptação para as telonas com o nome 30 Dias de Noite 2: Dias Sombrios. Desta vez, diferentemente de 2007, Sam Raimi, que tinha apadrinhado a produção, saiu do projeto juntamente com o primeiro diretor, David Slade. Para desandar de vez, Melissa George não pôde se envolver nas filmagens e teve de ser substituída por outra atriz. A troca não seria tão desastrosa se a trama do filme de 2010 não girasse exclusivamente ao redor da vingança da policial Melissa à matança provocada pelos vampiros em sua cidade.
Com a troca de protagonistas, um orçamento menor e uma direção pouco inspirada, a sequência agradou uma ínfima parte do já pequeno público que havia gostado da primeira parte da história. E eu também não faço parte dessa ínfima parte.
30 DIAS DE NOITE (30 Days of Night)
LANÇAMENTO: 2007 (EUA)
DIREÇÃO: David Slade
GÊNERO: Terror
NOTA: 8,0